A opinião predominante entre os estudos sobre os fundamentos da psicanálise é a de que suas origens encontram-se em solo alemão, como nas filosofias de Schopenhauer e de Nietzsche, além do romantismo de Goethe e outros. O próprio Freud oferece indicações a esse respeito em algumas de suas obras, de modo que a psicanálise parece mesmo ter sido em boa parte erigida a partir de uma tradição germânica. Há, porém, na obra inicial de Freud, referências importantes a autores ingleses, como ao filósofo John Stuart Mill e ao neurologista John Hughlings Jackson. A análise do contexto conceitual em que essas referências são empregadas e o estudo comparativo de alguns dos textos desses autores revelam que certas prescrições metodológicas e hipóteses científicas de origem britânica teriam sido apropriadas por Freud e entrado na constituição da psicanálise, encontrando-se presentes nos fundamentos de sua obra madura. A explicitação das raízes britânicas da psicanálise auxilia-nos assim a melhor compreender seu estatuto como disciplina cientíca nova, mas sobretudo apresenta-a como uma herdeira não apenas da Au lärung e do Romantismo, mas igualmente da tradição de pensamento científico-naturalista.
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