Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda "se propunha investigar nada menos do que nossa personalidade nacional através de suas raízes históricas". Raízes do Homem Cordial é uma busca em profundidade de traços definidores de nossa cordialidade. Do patriarcalismo herdado do colonizador português e da sua cultura da personalidade – oposta às relações impessoais próprias do europeu – derivam o acentuado "particularismo" solipsista (o "individualismo") e a privatização dos indivíduos (o fechamento em seu mundo privado). Trata-se, portanto, de uma situação de heteronomia, de submissão à lei do outro, ao contrário da autonomia que é a abertura para o outro, para o mundo, para a instituição de uma sociedade na qual os indivíduos obedecem à sua própria lei, na medida em que esta seja uma criação coletiva consciente. Em Raízes do Brasil faz-se uma reflexão política de singular atualidade, revelando o caráter e a ética de nosso homem cordial. O colonizador cedeu docilmente aos valores culturais de nossos indígenas e de nossos negros, mas deixou em nós algumas marcas: autoritarismo, conservantismo, negação da política, espírito anárquico e falta de coesão social. Deixou também outros traços: paternalismo condescendente, hospitalidade, generosidade, delicadeza no trato e docilidade dengosa.