O presente livro, de autoria da historiadora Gilmária Salviano Ramos, que ora vem a público, é uma vigorosa pesquisa acerca das práticas de aborto e de infanticídio na Paraíba entre as décadas de 1960 e 1970. Leitura fundamental para quem procura compreender como os discursos e as práticas jurídicas, médicas, jornalísticas e políticas elaboram uma série de conceitos e narrativas, não só para enquadrar aquelas práticas como criminosas, mas também buscando disciplinar os corpos das mulheres paraibanas no período dentro de um dado ideal de mulher e de família que vislumbrava (re)produzir os futuros "filhos da nação", bem ao gosto das políticas de natalidade e de planejamento familiar da ditadura civil-militar. A autora se baseia em um profícuo corpus documental, compulsando jornais e petições de habeas-corpus, em busca de descrever e analisar como mulheres paraibanas foram ditas e vistas nesses momentos de infâmia ao se depararem com as luzes produzidas pelo poder, como afirmava Foucault, autor caro em suas análises. Convido o(a) leitor(a) a percorrer às páginas desta obra instigante e acompanhar, a partir de um texto fluido e bem articulado, apesar do tema forte e espinhoso, a história de como os corpos femininos foram atravessados pelas fimbrias do poder dentro das normatizações de gênero.
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