O livro Robôs e Inteligência Artificial nas telas: Tecnociência, Imaginário e Política na ficção nasce de diversos incômodos. O primeiro envolve a percepção de uma visão demasiadamente negativa sobre ciência e tecnologia, no âmbito sociocultural. É comum se deparar com a ideia de que máquinas se rebelarão contra a humanidade, escravizando ou destruindo-a. Uma atualização dos sentimentos que conduziram trabalhadores ingleses no século XIX a quebrarem maquinários no início da Revolução Industrial. Tanto neste quanto naquele caso, uma visão crítica da tecnociência é fundamental, mas outra face permanece oculta: Por que, antes mesmo de existirem concretamente, os frutos da tecnociência povoam a imaginação humana? Porque suas imagens e discursos tocam o recôndito do ser: anseios e receios reprimidos, mas expressos simbolicamente nos objetos técnicos, nas obras ficcionais ou não e nas relações humanas. Outro incômodo motivador do livro é o horizonte humanista e antropocêntrico como objetivo das máquinas, sobretudo daquelas moldadas à imagem e à semelhança humanas. Se robôs avançados como os da ficção existissem, será mesmo que fariam tudo para buscar uma natureza humana ao invés de desenvolver suas singularidades? Retirar o humano desse lugar confortável no centro e topo de tudo é aqui uma finalidade, visando instigar a reflexão. Como último incômodo inspirador deste livro está a concepção da cultura da mídia como algo restrito ao divertimento, à passividade e à fuga da realidade. Claro que tudo isso pode estar envolvido no entretenimento, mas atualmente suas formas são tão complexas que nos desafiam a cartografar significações mais profundas. As narrativas despontam como chaves de leitura do mundo contemporâneo, possibilitando enxergar tais histórias como potências políticas que advertem nossas noções de progresso; interrogam as formas de criação, circulação e consumo narrativos e desvelam pontes entre debates científicos, seara tecnológica e cultura midiática. O livro destina-se a pesquisadores de diversas áreas em interdisciplinaridade e ao público leigo, fã ou não de sci-fi. Seu diferencial é provocar diálogos entre campos do conhecimento por vezes isolados uns dos outros, e sua principal vantagem é validar o entretenimento midiático nas dimensões pelas quais gostamos dele, mas também elevá-lo a um lugar privilegiado de observação da contemporaneidade.
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