O romance "Veias e Vinhos" é detentor de amplo prestígio em nosso tempo, pelo seu poder de influenciar o leitor e, destarte, os escritores contemporâneos, que buscam sempre inovar os temas, bem como as formas de compor "[...] procurando focalizar novos aspectos do indivíduo e da sociedade, modificando estruturalmente as técnicas de narrar, de construir a intriga, de configurar as personagens" (OLIVEIRA, 2012, p. 21). A obra contem a nova maneira de realizar o processo enunciativo na narrativa, que se realiza por várias vozes emissoras; seu procedimento pluriforme, os solilóquios, monólogos diretos, indiretos, fluxos da consciência e os critérios de elaboração da temporalidade e da espacialidade, pois esses são elementos fundamentais da renovação da narrativa atual. Veias e Vinhos alcança a inteligência do leitor por meio de uma narrativa estruturalmente contemporânea, valoriza os aspectos do romance aberto (ECO, 1968), por não reproduzir uma presumida estrutura objetiva, uma vez que não deixa definido início, meio e fim. A obra é composta por atos linguísticos de múltiplas instâncias de enunciação, por meio de várias vozes, cada uma conta uma experiência, fundindo-se com uma única que ficou conhecida como "Crime da Rua 74", um massacre do qual só houve uma sobrevivente, "Ana". Veias e Vinhos é uma obra bem acolhida pela crítica literária especializada. Ela se faz por meio de um especial método polifônico e, além disso, exibe uma profunda ironia e um elaborado procedimento alegórico da opressão que pesa sobre a sociedade contemporânea, e se serve de elementos renovadores da narrativa como solilóquios, monólogos, fluxos da consciência e intensa emissão dramática, fatores que concorrem para um modo específico e alternativo de recepção. O modo de composição de uma obra literária contemporânea constitui um fator de grande relevância para a crítica literária e para a sua avaliação estética, pois uma leitura aprofundada leva à compreensão de que um texto constitui uma área de saber que se faz por meio de um entrelaçamento complexo de fatores culturais, formais e expressivos, instauradores de "signos que possuem redes, vasos comunicantes que transmitem ideias, sentimentos, perspectivas, comportamentos, cuja discursividade, múltipla e diversa, funda novas subjetividades" (BARTHES, 1988, p. 42). Tudo isso concorre para que a leitura se torne inteiramente lúdica, alicerçada num processo que joga com os enigmas dos sentidos, fazendo com que aflore nas palavras uma multiplicidade significativa que confira um valor essencial à obra. A criação artística estudada sob o ponto de vista da estética nos remete a noções como Lei Universal, Simetria Dinâmica, Forma Significante e problemas da abstração: "um registro de coisas que ele deseja imortalizar" (LANGER, 2011, p. 16). Segundo a Teoria do Efeito Estético, formulada por Iser (1999), a arte constitui uma elaboração diferente daquela do mundo real, pois virtualiza algo sutilmente realizado, transcendente em relação ao mundo empírico. E justamente por não ser idêntica ao mundo real, ela detém um enorme poder sugestivo, haja vista que, "a tarefa da arte, mais do que reconhecer o mundo, é produzir complementos dele, formas autônomas que se acrescentam às existentes, exibindo leis próprias e vida pessoal" (ISER, 1999, p. 125).
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