Considerado por Pablo Neruda o "Kafka chileno", Juan Emar (1893-1964) está entre os mais radicais ficcionistas das vanguardas latino-americanas de princípios do século 20. Dele o poeta também afirmou que "foi um grande ocioso que trabalhou toda a sua vida". Enrique Vila-Matas, por outro lado, prefere identificá-lo com César Aira, "seu herdeiro", ao que o próprio Aira rebate: Emar estaria mais próximo do pré-surrealista Raymond Roussel, com suas criações marcadas pela frieza maquinal, e seria um antecipador do polonês Witold Gombrowicz e seu "surrealismo mecanista e maníaco, um encanto raro, patafísico, aparentado com o de outros grandes solitários", como o mexicano Efrén Hernández, o equatoriano Pablo Palacio (publicado nesta coleção) e o argentino Macedonio Fernández. Ao contrário da experiência monumental do romance póstumo Umbral (a respeito construiu-se a lenda de que o original ocupava um baú inteiro), composto de cinco livros de diferentes gêneros - autobiográfico, metaliterário, paródico, ensaio, ficção científica e alucinação esotérica -, Um ano é o diário de um apressado, que se inicia com esse anúncio ("Hoje amanheci apressado") e encerra após doze breve capítulos, abrangendo apenas o primeiro dia de cada mês de um ano não identificado. Prisioneiro do cotidiano, Emar se liberta por meio das minúsculas coisas que, ao passar do tempo, se revelam grandiosas: a leitura do Quixote ou permanecer atravancado na esquina enquanto aguarda a chuva passar. Tudo em tal espera é dotado de graça melancólica de um Buster Keaton: "O homem, pelo seu tamanho, ocupa, mais ou menos, o ponto médio entre o átomo e a estrela; por isso, para ele é mais ou menos igual se ocupar do infinitamente pequeno ou do infinitamente grande". Pequeno ou grande, pouco importa: Juan Emar é um autor imprescindível da América de língua espanhola.
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