Em Um escritor no fim do mundo, Juremir Machado da Silva, um dos poucos amigos de Houellebecq, nos brinda com lampejos de sua personalidade visionária. A reserva do francês, paradoxalmente, se derreteu exposta ao frio do extremo sul das Américas. Em meio à bela, intocada e selvagem natureza patagônica, o fechado Houellebecq, de poucas palavras e muitos enigmas, mostra-se uma pessoa cativante, afetuosa e divertida. Frente ao paredão de gelo do Perito Moreno, ou acompanhado de um belo vinho argentino, abrigado dos ventos cortantes que vem da Antártida, Houellebecq deixa escapar suas impressões sobre literatura. Fala de filhos, de pais, de utopias, do passado e do futuro, sem qualquer afetação. Pondera sobre a inspiração ou porque escreve. E faz uma reflexão sobre o poder terapêutico da linguagem, o valor da arte, o belo, o humor, a ironia, a cultura. Mais que um relato de viagem, Um escritor no fim do mundo é um misto de antropologia tardia e sociologia precoce. São várias as questões essenciais e metafísicas. Qual a diferença entre uma foca e um lobo-marinho? Vale a pena ter filhos quando se pode ter um cachorro? Como falar de literatura na tv? O que não está perguntado ou respondido, está sugerido. Ou imaginado. Houellebecq revela-se um bom cantor, um grande imitador e um excelente fotógrafo.
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