Em 24 de novembro de 1974, Simone Veil, então ministra da Saúde, discursou na Assembleia Nacional francesa colocando em votação a legalização do aborto, que naquela época obrigava cerca de 300 mil mulheres a procurarem saídas clandestinas, humilhantes e perigosas para interromper a gravidez indesejada. Com o discurso apresentado em Uma lei para a história, livro publicado pela primeira vez no Brasil, Simone Veil garantiu esse importante direito às mulheres na França. Enfrentando uma oposição virulenta, Simone Veil - francesa de origem judaica, sobrevivente do Holocausto, também primeira mulher a presidir o Parlamento Europeu - defendeu a despenalização do aborto como questão de justiça social e saúde pública. A vitória garantida na madrugada de novembro de 1974, após mais de cinco horas de debates, não representou, no entanto, o fim de sua luta. Invasões a hospitais, resistência de médicos e de setores da sociedade exigiram persistência e coragem para garantir os direitos conquistados. Hoje, mais de quarenta anos depois, a experiência francesa é exemplo para o mundo. Em uma esclarecedora entrevista concedida à jornalista francesa Annick Cojean, também incluída nesta edição, Simone Veil narra os bastidores desse momento histórico, fazendo uma importante reflexão sobre os direitos das mulheres, os desafios enfrentados e todo o contexto vivido. Para refletir sobre o cenário brasileiro, a edição reúne textos da cientista social Silvia Camurça e da professora de direito e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética Debora Diniz. Ambas destacam a coragem de Simone Veil como inspiração para a persistente luta em favor dos direitos reprodutivos de todas as brasileiras. "Não faço parte das pessoas que temem o futuro", disse Simone Veil, ao fim de seu discurso.
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