Em um relato construído ao longo de vinte anos de entrevistas, Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz revelam o que pensa o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica sobre o caminho e a chegada ao poder, a forma de vivê-lo e exercê-lo e a solidão de sentir-se uma ovelha negra em um mundo alheio. Pepe Mujica é, sem dúvida, um dos personagens mais interessantes da história contemporânea. Foi membro do Movimento de Libertação Nacional - que, na década de 1960, assaltava bancos para distribuir dinheiro aos pobres - e lutou contra a ditadura militar instalada no Uruguai entre 1973 e 1985. Por conta disso, ficou preso por quase quinze anos, sete dos quais viveu na solitária. Com a redemocratização, ingressou na política partidária. Foi deputado, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, senador e, finalmente, presidente da República, eleito por uma coligação de partidos de esquerda. A liberação do casamento entre pessoas do mesmo gênero, a descriminalização do aborto e a regulamentação da produção e comercialização da maconha por parte do Estado colocaram Mujica e o Uruguai em destaque como uma vanguarda progressista na América do Sul. Na juventude, como membro do Partido Nacional, visitou a União Soviética e se decepcionou com o comunismo ao constatar que os membros da cúpula do Partido Comunista viviam em condições inalcançáveis para a maioria da população. Mujica define-se como anarquista e diz que o anarquismo e o liberalismo são primos-irmãos. Enquanto foi presidente, transitou com desenvoltura entre líderes mundiais, como Barack Obama e Vladimir Putin. Teve boas relações com os irmãos Castro e apoiou o governo de Evo Morales. Considera-se amigo de Lula e conviveu com Hugo Chávez, embora tenham algumas discordâncias. Não guardou ressentimento dos militares. É ateu, mas acredita que a Igreja Católica é uma das instituições mais respeitáveis do mundo. Jamais parou de estudar. Mesmo quando ocupou a Presidência, nunca deixou de frequentar seus lugares preferidos, de dirigir seu Fusca e de morar em sua modesta chácara, nas proximidades de Montevidéu. Desprezou as ostentações do poder, os palácios e os automóveis de luxo, e sempre se recusou a usar gravata. Doava cerca de 70% de seus proventos a programas de habitação popular. Este livro, resultado de uma reportagem construída ao longo de décadas, estabelece Pepe Mujica como fenômeno internacional e ícone latino-americano.
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