Michel Foucault, em A Vida dos Homens Infames, reconhece existências ordinárias e vidas únicas que foram arquivadas nos acervos franceses. Ele extrai discursos e práticas desses documentos, revelando as histórias de pessoas cujas vidas foram documentadas apenas por terem cruzado caminhos com o poder. Ele efetua uma espécie de "coletânea de experiências de vida". Este livro, fundamentado em conceitos foucaultianos, propôs-se a cartografar fragmentos das vidas de crianças negras presentes em documentos judiciais e entender esses registros, seus discursos e posições, e quais olhares e tratativas o poderio local lançava para administrar vidas e corpos daquelas crianças. Procurou-se entender também se, na atmosfera oitocentista, "cor" e "raça" exerciam influência nos desdobramentos dos processos. Pode-se concluir que, no cenário do século XIX, uma nova concepção sobre a criança estava emergindo. Esse modelo de criança, idealizado naquele momento pela medicina higienista, serviria somente à criança branca, católica, de posses. Ele não ampararia a criança negra. Não se tratava somente de um tipo de racismo já existente, mas, sim, de um tipo novo de racismo que nascia junto com a própria ideia de criança. Era a infância deste tipo de racismo no Brasil. Esse racismo provocaria impactos nos processos judiciais envolvendo crianças negras, potencialmente resultando em uma forma de justiça seletiva, em que as decisões judiciais seriam influenciadas pela questão racial.
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