O prazer de trabalhar com crianças de 1º ciclo (ou ensino primário como é referido a nível internacional) na área da educação física em coadjuvação com as professoras titulares levou-me a "espreitar" o que se passava no recreio. De forma discreta e quase invisivel fui entrando naquele espaço que é delas - o espaço de jogo e recreio. Aos poucos percebendo que tantas coisas boas se passavam mas não compreendia todos os comportamentos. Via muitas corridas, tantos jogos de perseguição e por vezes lutas. As lutas eram motivo de preocupação e lá ia interromper e tantas vezes tinha aqueles olhos grandes de espanto fixados em mim e das bocas saiam frases como "estamos a brincar" ou "não vês que não é a sério?" e quantas vezes respondi "claro que não percebi, preciso de um sinal, talvez uma etiqueta ou um semáforo especial" e depois sucediam-se as gargalhadas francas e lá seguia a brincadeira. Esta documento resulta de um ano de vida no recreio, entrevistei as crianças, filmei os jogos e as lutas permiti-lhes a discussão e a explicação dos acontecimentos. As crianças foram fundamentais ao aceitarem a minha presença no seu espaço e partilharem as suas justificações para os factos observados.