Havia lido sobre histórias de guerras, entretanto nunca havia participado ativamente de nenhuma. E lá estava eu, médica, mulher, trabalhando como um soldado na linha de frente da pandemia mundial da Covid-19. Em 2020, fomos recrutados e lançados no combate a um vírus de alta letalidade e vi pessoas morrerem como peixes fora d'água. Entre tubos, medicamentos, atestados de óbitos, o caos estava instalado dentro dos hospitais e dentro de nossas cabeças. Não foram poucos de nós (profissionais da área da saúde) que morremos ou ficamos com sequelas. Cada dia, era uma nova batalha e estávamos perdendo. O vírus SARS-CoV-2 era um enigma. O que sabíamos era que o vírus se disseminava rapidamente e matava em poucos dias, era resistente à maioria dos antibióticos e os pesquisadores mundiais estavam em um quarto escuro, sem conclusões ou vacinas. Eu, como uma boa soldada, trabalhei mais do que o meu corpo poderia aguentar. Foram horas intermináveis de plantões, por vezes, eu permanecia 72 horas na ativa, tentando salvar e estabilizar pacientes. Até o momento que a dor invadiu meu corpo e eu tombei no front. O diagnóstico foi devastador, estava com câncer avançado. Como seguiria esta batalha pessoal? Como transpor a linha limítrofe entre ser a médica e me transformar em paciente? Vesti minhas vestes de guerra e iniciei a batalha de uma vida.
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