A traição conjugal é o tema que conduz os quatro contos do livro. Como vão reagir e quais motivações podem gerar o ponto de inflexão que torna insuportável a traição para quatro mulheres dos séculos 16, 18, 20 e 21? Com uma rigorosa reconstituição de época e mesclando personagens históricos com ficcionais, quatro Marias ganham vida. A primeira delas é uma nobre portuguesa que tem a sua vida interrompida pelo degredo e vem para o Brasil com as caravelas das primeiras expedições. Instala-se com o marido na capitania de São Vicente, onde, ainda que isolada, convive com portugueses, franceses, indígenas e um africano. A segunda é a herdeira de um arraial com direito de lavra na Vila Rica das Minas Gerais. Após problemas surgidos pelo movimento da Inconfidência Mineira, ela é obrigada a fugir com o marido para o Rio de Janeiro. Lá permanece até a chegada da família real. A história da terceira é relatada por cartas, memorandos e diários. Trata-se de uma líder operária negra, filha de escrava, que nasce no preciso dia da lei abolicionista. Ela vive entre a fábrica e jornais anarquistas, percorrendo fatos marcantes, como a Semana de 22, a Coluna Prestes e o Estado Novo. A história da quarta é transcrita em formato de WhatsApp. A partir da primeira mensagem, em que se evidencia a traição, todas as demais mensagens passam a esmiuçar o círculo profissional, familiar e de relacionamentos da protagonista. Segundo o jornalista, poeta, escritor e crítico literário Fernando Andrade, "Quatro Marias, de Alvaro Mendes, é um livro de contos movido por encaixes: pela estrutura de mosaico com suas partes-contos conectadas num plano de fundo, que repercute a história do país, culturalmente. É também um livro que escuta essa história no seu novelo mais fabular e romanesco; amplifica o estudo do feminino e do feminismo, dialogando com blocos de movimentos do andar da carruagem de uma sociedade que pouco evoluiu no material humano. No decorrer do processo de escrita, o movimento é dialético porque ele pensa seus contos como blocos hegemônicos da história da sociedade patriarcal brasileira. 'Marias' vão se conhecendo entre os primeiros contos e os segundos e os terceiros, a individualidade das personagens vai se amalgamando numa sólida consciência de gênero. No último conto, em formato teatral, as quebras de estereótipos de gêneros e novas associações entre o virtual e o espaço privado dão a noção de nova estrutura crítica, tanto da escrita como da forma de ver e entender as relações sociais e pessoais."
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