A proposta deste trabalho é desenvolver um estudo sobre o romance Canaã (1902), de Graça Aranha, buscando alcançar uma linha de interpretação que reflita sobre a relação entre a obra e os materiais histórico-sociais. O interesse é demonstrar que o arranjo dos dispositivos estéticos do primeiro livro do escritor maranhense representa uma realidade humana e social historicamente situada. Assim, embora seja comumente apontado pela fortuna crítica como uma narrativa desarticulada, devido às inconsistências entre os acontecimentos que ocorrem e os conceitos que formula, o romance revela apenas uma aparente falta de historicização. Uma análise atenta poderá mostrar que a falência formal do livro, atribuída muitas vezes como defeito de composição e falta de perícia do autor, é uma das maneiras de representação da realidade, que expressa a sua força mimética. A partir da compreensão de como a obra foi situada no cenário da literatura brasileira e abordada pela tradição crítica, buscar-se-á desenvolver um estudo sobre a configuração literária de Canaã.