Uma investigação acerca da linguagem e das estratégias narrativas no cinema documentário contemporâneo é o objetivo deste estudo. A pesquisa foi realizada a partir da análise do filme israelense Valsa com Bashir (2008), que se tornou um marco na história da não-ficção ao radicalizar tendências alternativas aos postulados clássicos dessa cinematografia, encarnados no estilo cinema direto e cinéma vérité. A obra do diretor Ari Folman propõe um mergulho na memória de seus personagens, construindo uma narrativa a partir de suas subjetividades. Com isso, incorporou-se ao discurso realista característico do documentário elementos pouco usuais como sonhos, alucinações e reminiscências carregadas de traumas e culpas. Mais que isso, Valsa com Bashir dá vida a tais elementos intangíveis, representando-os na realidade imagética por meio da técnica da animação, estruturando uma história em que o mundo fático e o mundo da imaginação misturam-se e revezam-se de forma caótica. Tudo isso tendo como pano de fundo um dos mais infames episódios das seis décadas de embate entre israelenses e palestinos na Terra Santa: o massacre de Sabra e Chatila durante a primeira Guerra do Líbano (1982).