A excepcionalidade e o interesse do livro Terreiro do Bogum - Memórias de uma comunidade Jeje-Mahi na Bahia, de Everaldo Conceição Duarte, deve-se ao fato de ele tratar da memória do Bogum, um Terreiro fundado por africanas e africanos no século XIX, que, junto à Casa irmã da Roça do Ventura, em Cachoeira, se erige hoje em matriz ou modelo ritual do Candomblé de nação Jeje-Mahi na Bahia e no Brasil. Assim, este livro nasce como uma contribuição preciosa ao patrimônio da cultura afrodescendente, porque se trata da história do Candomblé Jeje contada "de dentro", pela voz de um dos seus filhos, membro de uma das linhagens mais ilustres dessa tradição religiosa. Enquanto testemunho de experiência vivida, seu valor histórico é inapelável, mas ele também traz a carga afetiva da memória pessoal, que evoca um passado coletivo de sofrimento e resistência, de adversidade, luta e conquista cotidiana, de solidariedade e dignidade. Nesse sentido, a palavra clara do Agbagigan, ao trazer à luz fragmentos da sua recordação subjetiva, nos regala com visões reveladoras do passado do povo negro brasileiro como um todo. Uma dádiva singular que o leitor que enveredar pelas suas páginas vai celebrar. Luis Nicolau Parés
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