A arte da observação à espreita, o silêncio, o olhar atento para o mundo exterior e interior. Um gemido, um sussurro, um grito, a palavra que encontrou uma escuta ou alguma instância de apelo, e, finalmente, a cicatrização. Desse modo, o atormentado Narrador do romance Dois Irmãos, de Milton H/atoum, busca saber quem é seu pai e, entre o estranhamento, a exclusão e o abandono, sobrevive para contar as ruínas da sua família. Para encontrar o seu lugar, desdobra-se em táticas de ação até compor o próprio discurso, superando a situação-limite da ausência paterna, observando outras presenças. Dois Irmãos evidencia o caráter dialógico e intextual. Para responder à pergunta do narrador, o autor utiliza a noção de identidade e de hibridismo cultural, pois se trata de um narrador que é filho de uma indígena e de pai branco e ignorado. A memória (e/ou esquecimento) é um importante recurso utilizado pelo escritor do romance na composição dos seus textos e personagens. Este livro não responde os enigmas do romance, mas provoca uma reflexão sobre a importância do discurso e ao mesmo tempo evidencia a preocupação do romancista com as vidas invisíveis e a dificuldade brasileira com a alteridade.
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