O empreendimento de Jean Tible é ousado e original. Como promover um encontro entre a teoria marxiana, tendo em conta sua filosofia da história, com os povos ditos selvagens, que não se resignam ao triste papel de resíduos arcaicos de um processo histórico destinado ao "progresso"? O presente trabalho não é um exercício de especulação teórica, mas responde a um contexto preciso em que etnias indígenas da América Latina assumem um protagonismo geopolítico, obrigando a esquerda tradicional do continente a rever seus dogmas sobre o estatuto da produção, do desenvolvimento, do próprio Estado. Ao traçar uma ponte entre a sociedade sem Estado vislumbrada por Marx e a sociedade contra o Estado de Clastres, o autor dá sua tacada inicial, contrarrestando a subordinação da categoria de selvagens aos clichês da dialética histórica. Em um suplementar, relativiza a dicotomia entre Marx e o perspectivismo ameríndio, extraindo um devir-índio no autor de O Capital. Não se trata de uma mascarada filosófica, tal como o fez Deleuze ao pincelar um Hegel filosoficamente barbudo e um Marx imberbe, na esteira do bigode da Gioconda, mas sim de uma aposta política. Viveiros de Castro, Davi Kopenawa e toda uma antropologia reversa desempenha aqui um papel crucial, ao evitar que a articulação entre as lutas ameríndias e as ciências sociais se dê sob o modo da sujeição ao eurocentrismo apoiado na transcendência e na representação. Fazendo um uso heterodoxo de Mariátegui, Benjamin, Mauss, Lévi Strauss, Ôsvald, Negri e tantos outros, é todo um paradigma ocidental que se vê aqui canibalizado e colocado em xeque, ao sabor e no frescor de uma pesquisa que aceita pensar-se à luz dos combates do presente. - Peter Pál Pelbart
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