Em Punição e Racismo na passagem do Império para a República, são investigadas as condições históricas da estrutura(ção) do racismo na violência escravista e no aparato prisional entre o período imperial e o período republicano. Como um dos pressupostos teóricos é o fato de que o racismo é constituinte da formação social brasileira, uma análise da relação entre racismo e punição não pode deixar de questionar tal relação como uma expressão de uma formação punitiva que se organizou ao longo do tempo. No período estudado, o racismo se organizou como uma arquitetura configurada por e configuradora de uma representação e de uma socialização que expressaram uma forma de dominação, categorização e essencialização do negro por meio da punição e da repressão. Essa arquitetura se materializou regularmente nos corpos negros por meio de discursos, técnicas e afetos. E, ao mesmo tempo, os corpos, os discursos, as técnicas e os afetos moldados garantiram a reprodução da estrutura. Logo, estrutura e estruturação se mostraram como um par indissociável. Do ponto de vista histórico, isso significou que entre o período imperial e o período republicano ocorreram não só continuidades, mas também mudanças na trama do racismo com a punição. Tanto a violência escravista do Império quanto o aparato prisional da República, conquanto fizessem parte de conjunturas diversas, tiveram discursos, práticas e afetos configurados pelo e configuradores do racismo. Apesar de o aparato prisional republicano ser sustentado como uma conquista civilizatória e um regime punitivo oposto em relação à violência escravista, houve uma continuação do racismo. Para o tempo presente, a premência do trabalho reside na percepção de que não é possível pensar o sistema penal contemporâneo, com as suas violações sistemáticas a direitos e garantias fundamentais e a sua clientela marcada por um perfil de classe, cor e idade, sem também ter em conta uma vontade de atualidade e de atualização do suposto passado de racismo. A ação transformadora no Brasil deve ter em conta o peso do racismo, afinal, até hoje é uma estrutura de coesão social, à medida que nossa sociedade não deixou de se fundamentar na perpetuação da desigualdade sociorracial.
Dieser Download kann aus rechtlichen Gründen nur mit Rechnungsadresse in A, B, BG, CY, CZ, D, DK, EW, E, FIN, F, GR, H, IRL, I, LT, L, LR, M, NL, PL, P, R, S, SLO, SK ausgeliefert werden.