Este livro expressa, por um lado, a experiência de realizar coletivamente uma pesquisa durante seis anos, desde a construção de sua metodologia, passando pelo desenvolvimento dela, incluindo a realização de inúmeros trabalhos de campo e chegando a esta publicação que, refletindo o percurso vivido, também foi escrita a várias mãos. Por outro lado, do ponto de vista temático, a individualidade perpetuada pela satisfação das necessidades por meio do crédito levou-nos à caracterização de um cotidiano vivido, por meio de práticas orientadas pelo consumo, pela busca do que se quer consumir agora e pelo distanciamento em relação à vida urbana coletiva, à interação social e à luta pelo direito à cidade. Ao mesmo tempo e de maneira dialética, constatamos que algumas práticas espaciais de consumo decorrentes do crédito têm possibilitado novas perspectivas de realização do cotidiano urbano que apresentam uma série de potencialidades, quanto à criação de identidades e de novas formas de cidadania, que convergem para um entendimento do consumo e do crédito em outras bases. Desse modo, neste livro, nossa intenção é contemplar a análise tanto das contradições quanto dos diferentes sentidos que podem ser vislumbrados, a partir do estudo articulado entre consumo, crédito e direito à cidade. As respostas obtidas nas 102 entrevistas feitas com citadinos de Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São Carlos, São José do Rio Preto (SP) e Londrina (PR) reafirmam as intrínsecas relações entre a casa e a cidade e, portanto, a importância das diferenças geracionais na ressemantização tanto de uma como de outra, para a qual contribuem conjuntamente a experiência como consumidor e o marketing, os estudos (ou a ausência deles), o trabalho (ou ausência dele) e os valores que lhes são próprios e, inclusive, o acesso ao crédito e a "moral do homem endividado", todos eles articulados em redes de práticas espacializadas que atuam na reprodução de padrões de vida universais ao capitalismo, bem como reafirmam e multiplicam, num país como o Brasil, formas de produção do espaço urbano, que reforçam as desigualdades sociais, econômicas e políticas.
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