Fruto de uma investigação transnacional realizada no decorrer de 2018 e 2019 e de um profícuo diálogo envolvendo as duas autoras e o autor, esta obra analisa as relações entre gênero, religião, direitos e democracia na América Latina. Com o fim da chamada "onda vermelha" na região, é significativo o aumento da atuação de católicos e evangélicos conservadores na política, com forte reação às políticas de equidade de gênero, direitos LGBTQI e saúde reprodutiva. Flávia Biroli, Maria das Dores Campos Machado e Juan Marco Vaggione destacam o uso, por agentes conservadores, de expressões como "ideologia de gênero", "feminismo radical" e "marxismo cultural" para justificar normas que promovem exclusões, vetos a perspectivas críticas e o fim de políticas públicas importantes para mulheres e minorias, corroendo, por dentro, a democracia na região. Não bastassem as consequências para mulheres e populações LGBTQI, em muitos países a recusa desses direitos vem acompanhada de políticas que transformam movimentos sociais em inimigos e, por meio de diferentes estratégias, procuram subtrair legitimidade às agendas de justiça social. Num esforço de compreensão dos padrões atuais da reação ao gênero, o livro desenvolve uma moldura teórica em que o conceito de neoconservadorismo tem especial relevância. A disputa entre moralidades, analisada ao longo dos três capítulos que compõem a obra, inclui novos padrões de ação e de mobilização de enquadramentos, que abrem oportunidades para lideranças de extrema direita, colocam em xeque valores democráticos e reforçam tendências autoritárias.
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