Romi Soares, atriz, tem passado os últimos anos a dedicar-se à divulgação da poesia e autores não conhecidos. Sobre este "Relógio" diz ser retratada a súmula do desgaste do nosso "tempo", genialmente descrita pelo autor, Samuel Pimenta. Tempo inventado por nós, contado em dias, horas, minutos, anos, repetido, sensaborão, em tique-taques intermináveis e iguais. A este tempo cola-se "o blá-blá-blá das gentes redondas que nada mais sabem dizer além de dizerem nada". Samuel Pimenta, lúcido, atrevidamente verdadeiro, claro e preciso na palavra e na forma, opõe-se à "vertigem de que ser-se igual é ser-se perfeito". Cansado desse mundo de gentes redondas, a sua voz solta-se em grito: "A vida é liberdade! Liberdade de blás. Liberdade de tiques. Liberdade de taques. Liberdade!" E, nessa liberdade, a forma que dá à beleza e que aponta, com mestria, as cores do lixo humano, é a mesma com que pinta os seus sentimentos. Verdadeiros. A que mostra, claramente, quem é. A que desenha a leveza e a força do que é simples. A da ausência absoluta de conceitos velhos e caducos. A simplicidade de saber olhar, e "ser". Que este "Relógio" sirva de alavanca para se aprender, ou reaprender a olhar as "coisas".
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