Mediante levantamento e exame de fontes primárias sob uma abordagem transdisciplinar, este trabalho investiga a instrumentalidade do gênero na invenção da diferença racial que orientou ambos os processos de colonização e descolonização da Irlanda, assentados, respectivamente, no investimento em sua feminização e remasculinização e tratados, cada qual, numa das duas partes em que a pesquisa se divide. Na primeira parte, ao proceder a uma genealogia do discurso colonial, com enfoque na operacionalidade da feminização, argumento que tal dispositivo, ainda que recursivo ao longo de toda a colonização, assumiu caráter polimorfo, já que sujeito às contingências históricas e discursivas. Já na segunda parte, ao empreender uma análise do anticolonialismo, formatado como um projeto de remasculinização, demonstro que os irlandeses, devido à sua posição estatuária desfavorável, reinventaram-se sob um regime de significação circunscrito pelo discurso colonial.