Sempre que se quer justificar os males da sociedade brasileira, recorre-se ao expediente do jeitinho brasileiro. Nos corredores do supermercado, nas filas do banco, no aperto do ônibus para o trabalho, nas conversas de boteco, no elevador, nos programas de TV, no exterior; o estereótipo está em todo lugar. A praga viaja de taxi, de avião e de metrô; acompanha-nos desde a hora em que acordamos até o momento de dormir, e nos poupa de refletir se o fenômeno está mesmo impresso em nosso DNA cultural, como tanto se diz. Não temos dúvidas, o jeitinho é coisa nossa. Nascemos e crescemos sob a pecha de malandros. Uma gente que prefere viver o dia a dia da forma mais hedonista possível. Gostamos mesmo é de gandaia, de zoeira, de quizomba. Dizem até que só nos movemos ao som do pandeiro e do tamborim; que somos uma gente engenhosa e destra com o carisma e a lábia, com a hospitalidade e a malícia, a ginga, a finta, o drible, a manha, o jogo de cintura... que temos fascínio pela esperteza, pela malandragem, pela conversa fiada. Por que aceitamos essa bazófia como verdade? Por que a regra não valeria para a França, os EUA ou o Japão, mas para nós? Ou será que também vale para eles?